morro do Macaco

segunda-feira, novembro 20, 2006

Comissário Padilha passa um pito no tenente Rosalvo Dedé

– Será que é preciso encarar o senhor e falar olho no olho que já está mais do que na hora do senhor deixar de moleza? Será que é preciso encarar o senhor e berrar o dedo em riste que já está mais do que na hora do senhor deixar de indolência e corpo mole? Será que é preciso dizer palavra a palavra que está mais do que na hora do senhor tirar a bunda gorda desta maldita cadeira estofada? Será que é preciso falar que esta sua bunda aí sentada nesta maldita cadeira de veludo estofado está gorda e doentia de tanta folga? Será que vou ter que implorar para o senhor excelentíssimo tenente Rosalvo Dedé fazer o favor botar-se em marcha e agir? Será que eu vou ter que ajoelhar e pedir ao senhor tenente fazer o favor de pigarrear e gritar para a soldadesca um monte de desaforos acompanhados de um monte palavrões mais um monte de indecências cabeludas? Será que vou ter que explicar ao ilustríssimo senhor tenente como se portar para se fazer entender por esta corja de janotas – esta matilha de vagabundos de botas lustradas? Será que vou ter que motivar esta cambada de gatos gordos de pão-de-ló e leitinho direto da vaca? Será que vou ter que explicar que a coisa não pode ficar como ela está? Que nós guardiões das leis e da justiça não toleramos a Coisa do jeito que a Coisa está e para garantir que a Coisa vai ficar do que jeito que gente quer que a Coisa fique nós vamos subir o morro do Macaco e botar fogo na canjica dessa macacada toda? Será que vou ter que explicar que macaco Djalma dos Santos vai ter que entender que nosso riscado é Ferro na Boneca dele?

Seu Rosalvo  Dedé relembra o saudoso Comissário Padilha:

Seu Rosalvo Dedé relembra o saudoso Comissário Padilha: "Velhos tempos! Bons tempos aqueles! Mas que era de amargar!"

quinta-feira, novembro 16, 2006

cheios de pernas, eles todos dançam

A cidade está cercada de morros. Os morros estão cercados de policiais armados com revolveres, metralhadoras, espingardas, escopetas, canhões, chicotes, esporas. Os helicópteros voam. A sirenes gritam, insistem, esgoelam. Nos morros, os homens também têm suas máquinas: revolveres, metralhadoras, espingardas, escopetas, canhões, punhais, chicotes, pedras, paus, cocaína, maconha, heroína e, principalmente, muito ódio – ódio engarrafado, conservado, destilado e envelhecido.

As praias estão cheias de mulheres nuas correndo para cá e para lá. Há também homens musculosos, homens barrigudos, homens gordos, homens feios, homens bonitos, homens fracos, homens fortes, homens de bigode, homens sem bigode, homens simples, homens raros, homens de óculos, homens míopes, que também correm para cá e para lá atrás das mulheres, que fogem cheias de risos e gritinhos. Além disso, todos jogam vôlei, frescobol, surfam e se deitam sob um sol de quarenta graus.

O sol se põe na tarde azul. A noite caí. E todos dançam juntos quando os sons de tambores ensurdecedores começam a ribombar.

Seu Raimundo é míope mas usa óculos escuros de grau na praia.